Não é sobre um laço fofo no cabelo: Judô é para as Meninas | Judoquinhas Judô Infantil

Não é sobre um laço fofo no cabelo.

É sobre o fato de o Brasil ser um dos piores países do mundo para se nascer menina. E, infelizmente, ao redor do mundo, a situação das meninas não é tão diferente assim…

Recentemente tive acesso a estudos de entidades sérias sobre o que é ser menina ao redor do mundo. Eu não imaginava que, nos dias de hoje, fossem tão gritantes as desigualdades entre meninos e meninas.

O grande problema é que estas desigualdades são, em grande parte, responsáveis por prejudicar o pleno desenvolvimento das meninas, de tal forma que, apesar de sermos a metade da população mundial, somos minoria nas funções sociais, econômicas e políticas da sociedade e não temos o mesmo acesso e incentivo que os meninos recebem para os processos de tomada de decisões, uma situação que colabora para que se perpetue o ciclo de discriminação.

“Empoderar as Mulheres. Empoderar a Humanidade. Imagine, não somente porque as mulheres e meninas são mais da metade da população mundial. As desigualdades baseadas no fato de ser mulher ou menina não podem ser aceitas como naturais. Elas devem ser revertidas em oportunidades e ativos para que a humanidade alcance o seu equilíbrio de forças e de poder entre mulheres e homens, meninas e meninos” – Nadine Gasman é representante da ONU Mulheres Brasil

E o que o Judô tem a ver com isso?

Resposta: TU-DO.

Primeiramente, porque o próprio fundador do judô, o professor Jigoro Kano, que era um educador, criou o judô para fortalecer o indivíduo a fim de que ele pudesse colaborar para a construção de um mundo melhor para todos. Em outras palavras, o judô é uma ferramenta de empoderamento de meninos e de meninas. Assim, eu acredito que é OBRIGAÇÃO de todo sensei utilizar o judô para o pleno desenvolvimento das meninas.

É um direito da menina ter acesso a  um ambiente educacional e social no qual meninas e meninos, sejam tratados igualmente e encorajados a alcançar o seu potencial pleno, onde os recursos educacionais promovam imagens de mulheres e homens não estereotipadas e que sejam instrumentos eficazes para eliminar as causas de discriminação contra a mulher e a desigualdade entre mulheres e homens.

Os estudos apontam que, em geral, continua havendo uma atitude tendenciosa de gênero nos programas de estudo e no material didático, e raras vezes se atende às necessidades especiais das meninas e das mulheres. Isto priva as mulheres da oportunidade de participar na sociedade plenamente e em condições de igualdade. A falta de sensibilidade dos educadores de todos os níveis a respeito das diferenças de gênero aumenta as desigualdades entre as mulheres e os homens, porque reforça as tendências discriminatórias e mina a auto-estima das meninas.

Temos que ter cuidado com o nosso discurso e com as nossas ações. Muitas vezes temos um discurso e atitudes machistas mas não nos damos conta. Outras vezes, o machismo e o preconceito estão “disfarçados” de tradição.

Além disso, de acordo com a ONU Mulheres, o esporte é uma ferramenta poderosa para o empoderamento de meninas e de mulheres jovens e para o engajamento de homens pelo fim da violência contra as mulheres. Através da prática de esportes as meninas adquirem habilidades para a vida.

A discriminação contra a menina, hoje, é a violência contra a mulher de amanhã!

No judô as meninas se empoderam sobre o seus corpos, se veem mais capazes de tomar decisões assertivas, aprendem a superar desafios e a acreditarem em si mesmas. 

Estima-se que, no Brasil, 500 mil mulheres são estupradas todos os anos, fora os outros tantos milhões que sofrem abusos e violências sexuais. Deste número absurdo, 70% são crianças e adolescentes – e boa parte das mulheres ainda se sentem culpadas pela violência que sofreram.

Meninas devem ser o que elas quiserem.

Tudo isso é tão sério que pode definir todo o futuro de uma mulher. A menina costuma receber uma educação, desde pequena, do que “pode” ou não fazer de acordo com o que o ideal social de feminilidade e masculinidade espera, e muitas vezes as meninas se afastam das suas reais áreas de interesse por preconceito. Outras vezes, acabam se masculinizando para serem aceitas e reconhecidas em um meio machista. 

Não podemos compactuar com a discriminação. Nada disso é sobre usar um laço fofo no cabelo. O laço no cabelo é só um lembrete. É meu manifesto. É sobre empoderamento feminino. É sobre ser forte, gentil e bonita, como dizia a sensei Keiko Fukuda, a maior autoridade feminina do judo mundial de todos os tempos. É sobre Jita Kyoei. É sobre tentar impedir que as nossas meninas judoquinhas de hoje façam parte das assombrosas estatísticas sobre o que é ser menina e mulher no mundo em que vivemos.  

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